sábado, 6 de setembro de 2014

Moçambique em Paz

*Custódio Sumbane

Depois de várias atrocidades acometidas nas crianças, adolescentes, jovens, adultos e velhos, hoje, assinala-se o Acordo de Cessar-Fogo. Este acordo simboliza o fim das hostilidades, ou melhor, o fim da guerra não declarada ou simplesmente “guerra fria”. São várias infra-estruturas destruídas, vidas humanas perdidas, desconfianças construídas e cárceres emocionais desenvolvidas, isso devido aos tiroteios repentinos que se fizeram sentir no território das nossas almas. Esses tiroteios aprisionaram os solos da nossa emoção devido a intolerância manifestada no processo de resolução da tensão, a falta de paciência, de dignidade pelas diferenças, solidariedade, união entre outros aspectos não mencionados. Tem-se dito que “a união faz a força”. Isto quer nos fazer perceber que a contribuição faz a diferença, podendo ser tanto na luta contra os direitos humanos, na violência doméstica, nos raptos, na criminalidade, na síndrome de imunodeficiência adquirida (HIV-SIDA), no Vírus de Ébola, na luta contra a tuberculose, na descriminação racial, na exclusão social de crianças ou indivíduos com necessidades educativas especiais, enfim.
O bem-estar é feito por todos independentemente da etnia, cor da pele, estatuto socioeconómico, estilo de vida, estilo de aprendizagem, valores e crenças. Para sustentar esta ideia traria um dos mais importantes Líderes do Movimento dos Direitos Civis dos Negros nos Estados Unidos, e no Mundo, Marthin Luther King Jr. (1929-1968), para nos situar o seguinte: “Se um homem não tem algo na qual morreria não merece viver”. Isto quer nos fazer entender que todos temos uma contribuição a dar em prol a mudança de comportamento de risco. Temos uma contribuição em torno da salvação do mundo das várias patologias. E para ele, todo aquele que não tem algo na qual deixaria a sua vida ir a beira da morte, não merece viver. O homem não deve se preocupar com ele próprio mas sim pelos outros. Jesus também foi assim.
As escolas, universidades, institutos superiores e de formação têm como objectivo final formar o homem capaz de responder a demanda ou as necessidades da sociedade. Em outras palavras isto quer nos dizer que, o homem deve ser independente na arte de pensar, ter uma nova visão do mundo à sua volta. A sua contribuição na mudança de comportamento pode ser feita de várias formas como, por exemplo, a participação nas redes de comunicação (Televisão, Jornal, Facebook, WhatsApp, Twiter, ect), nos debates construtivos, nos núcleos académicos, nas associações e ainda através da publicação de artigos ou mesmo livros. Essa participação pode, de alguma forma, surtir efeito. Mas lembre-se que antes de ter algo na vida qual morreria por ela (segundo Marthin Luther King Jr.) ainda não está preparado para garantir a mudança do comportamento de risco.
Contudo, essas todas palavras são de alegria depois do choro por mim manifestado num dos artigos intitulado “Um Olhar Psicológico Sobre a Tensão Político-Militar em Moçambique”. Finalmente, se tomou em consideração todas as contribuições que os “Anjos de Guarda” deixaram ficar. Chamo de Anjos de Guarda, a todos que directo ou indirectamente perderam dias e noites a escrever e pensar, a debater, a criar temas de sensibilização, enfim. A todos que não se preocuparam pela sua vida mas sim pela vida dos outros. E hoje estamos em paz. Parabéns!
No entanto, permitam-me dizer que estamos em paz e felizes, mas os transtornos de personalidade não ficaram detrás, foram também causados. Os nossos entes queridos foram aprisionados o território da sua alma. Sendo assim, na qualidade das crianças que estão neste momento chorando lágrimas de sangue devido a crucificação dos seus próximos, tenho a salientar o seguinte: Um dos componentes que ditou a Assinatura do Acordo de Cessar-Fogo (diálogo), foi a crucificação da minha família (mãe, pai, irmã, irmão, tio, avô, prima, etc). Hoje estou sozinho sem ninguém para cuidar de mim e agora pergunto: Quem vai cuidar de mim sendo que todos os meus parentes foram com a guerra não declarada? Estou sujeito a ser mendigo por resto da minha vida. Atrocidades que poder-se-iam ter evitado!
Agora, em nome de todos que estão de luto digo: A tolerância, reciprocidade e solidariedade, cooperação, força de vontade, autonomia e coerência, capacidade de se colocar no lugar do outro, de dialogar, de conversar são valores essenciais para se tecer a paz, (Ferreira et al, 2006: 3-4). E Estanqueiro, (1992), alerta nos que há três formas de resolução de conflitos à saber : O diálogo, o ataque e a fuga. E para ele o diálogo autêntico dá bons frutos. Promove a confiança mútua; gera entendimentos; humaniza as divergências; permite acordos. Porém, este surge, deste modo, como a estratégia ideal para resolver conflitos e aproximar as pessoas. Muitos conflitos entre pessoas, grupos ou nações, foram evitados ou resolvidos pela aposta ao diálogo.
Portanto, é preciso dizer que os direitos humanos não podem estar apenas na lei, devem ser tecidos na alma e esculpidos no coração, Cury (2002:103).


*Licenciando em Psicologia
2014

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