Moçambique em Paz
*Custódio Sumbane
Depois
de várias atrocidades acometidas nas crianças, adolescentes, jovens, adultos e
velhos, hoje, assinala-se o Acordo de Cessar-Fogo. Este acordo simboliza o fim
das hostilidades, ou melhor, o fim da guerra não declarada ou simplesmente “guerra
fria”. São várias infra-estruturas destruídas, vidas humanas perdidas, desconfianças
construídas e cárceres emocionais desenvolvidas, isso devido aos tiroteios
repentinos que se fizeram sentir no território das nossas almas. Esses
tiroteios aprisionaram os solos da nossa emoção devido a intolerância
manifestada no processo de resolução da tensão, a falta de paciência, de dignidade
pelas diferenças, solidariedade, união entre outros aspectos não mencionados. Tem-se
dito que “a união faz a força”. Isto quer nos fazer perceber que a contribuição
faz a diferença, podendo ser tanto na luta contra os direitos humanos, na violência
doméstica, nos raptos, na criminalidade, na síndrome de imunodeficiência
adquirida (HIV-SIDA), no Vírus de Ébola, na luta contra a tuberculose, na descriminação
racial, na exclusão social de crianças ou indivíduos com necessidades
educativas especiais, enfim.
O
bem-estar é feito por todos independentemente da etnia, cor da pele, estatuto
socioeconómico, estilo de vida, estilo de aprendizagem, valores e crenças. Para
sustentar esta ideia traria um dos mais importantes Líderes do Movimento dos
Direitos Civis dos Negros nos Estados Unidos, e no Mundo, Marthin Luther King
Jr. (1929-1968), para nos situar o seguinte: “Se um homem não tem algo na qual morreria
não merece viver”. Isto quer nos fazer entender que todos temos uma
contribuição a dar em prol a mudança de comportamento de risco. Temos uma
contribuição em torno da salvação do mundo das várias patologias. E para ele,
todo aquele que não tem algo na qual deixaria a sua vida ir a beira da morte,
não merece viver. O homem não deve se preocupar com ele próprio mas sim pelos outros.
Jesus também foi assim.
As
escolas, universidades, institutos superiores e de formação têm como objectivo
final formar o homem capaz de responder a demanda ou as necessidades da sociedade.
Em outras palavras isto quer nos dizer que, o homem deve ser independente na
arte de pensar, ter uma nova visão do mundo à sua volta. A sua contribuição na
mudança de comportamento pode ser feita de várias formas como, por exemplo, a
participação nas redes de comunicação (Televisão, Jornal, Facebook, WhatsApp,
Twiter, ect), nos debates construtivos, nos núcleos académicos, nas associações
e ainda através da publicação de artigos ou mesmo livros. Essa participação
pode, de alguma forma, surtir efeito. Mas lembre-se que antes de ter algo na vida
qual morreria por ela (segundo Marthin Luther King Jr.) ainda não está
preparado para garantir a mudança do comportamento de risco.
Contudo,
essas todas palavras são de alegria depois do choro por mim manifestado num dos
artigos intitulado “Um Olhar
Psicológico Sobre a Tensão Político-Militar em Moçambique”. Finalmente,
se tomou em consideração todas as contribuições que os “Anjos de Guarda”
deixaram ficar. Chamo de Anjos de Guarda, a todos que directo ou indirectamente
perderam dias e noites a escrever e pensar, a debater, a criar temas de
sensibilização, enfim. A todos que não se preocuparam pela sua vida mas sim
pela vida dos outros. E hoje estamos em paz. Parabéns!
No
entanto, permitam-me dizer que estamos em paz e felizes, mas os transtornos de
personalidade não ficaram detrás, foram também causados. Os nossos entes
queridos foram aprisionados o território da sua alma. Sendo assim, na qualidade
das crianças que estão neste momento chorando lágrimas de sangue devido a
crucificação dos seus próximos, tenho a salientar o seguinte: Um dos componentes
que ditou a Assinatura do Acordo de Cessar-Fogo (diálogo), foi a crucificação
da minha família (mãe, pai, irmã, irmão, tio, avô, prima, etc). Hoje estou
sozinho sem ninguém para cuidar de mim e agora pergunto: Quem vai cuidar de mim
sendo que todos os meus parentes foram com a guerra não declarada? Estou
sujeito a ser mendigo por resto da minha vida. Atrocidades que poder-se-iam ter
evitado!
Agora,
em nome de todos que estão de luto digo:
A tolerância, reciprocidade e solidariedade, cooperação, força de vontade,
autonomia e coerência, capacidade de se colocar no lugar do outro, de dialogar,
de conversar são valores essenciais para se tecer a paz, (Ferreira et al, 2006:
3-4). E Estanqueiro, (1992), alerta nos que há três formas de resolução
de conflitos à saber : O diálogo, o ataque e a fuga. E para ele o diálogo autêntico dá bons frutos. Promove a confiança
mútua; gera entendimentos; humaniza as divergências; permite acordos. Porém,
este surge, deste modo, como a estratégia ideal para resolver conflitos e
aproximar as pessoas. Muitos conflitos entre pessoas, grupos ou nações, foram
evitados ou resolvidos pela aposta ao diálogo.
Portanto, é preciso dizer que os direitos humanos não podem
estar apenas na lei, devem ser tecidos na alma e esculpidos no coração, Cury
(2002:103).
*Licenciando em Psicologia
Email:
custodiosumbane@gmail.com
2014
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