MOTIVOS DE COMPORTAMENTOS SOCIAIS
“Uma
Reflexão do Ponto de Vista Psicológica e Educativa”
Maputo, 2014
*Custódio
Sumbane
No
nosso dia-a-dia, temos encarado dilemas tanto ao acordar, ao entardecer, ao
anoitecer ou mesmo de madrugada que, fazem com que não tenhamos paz no
anfiteatro ou nos solos da nossa emoção, ou seja, sem saber em como lidar ou
mesmo superá-los. Falando de Comportamentos Sociais está-se a falar
concretamente de frustração, agressão, apatia, depressão, conflitos, ansiedade
entre outros. Sendo assim, pode se dizer que, o homem é sem dúvidas susceptível
dessas tipologias comportamentais, isto é, independentemente da raça, do grupo
étnico, do estilo de aprendizagem, dos valores, das crenças, dos hábitos, do
nível de inteligência até mesmo da religião ele carrega consigo essas descargas
comportamentais.
Olhando em primeiro
lugar para frustração, dir-se-ia que este é sem dúvidas, comportamento
resultante duma necessidade não satisfeita, bloqueada ou não atendida. Sendo
assim, pode se dar o caso de um indivíduo que quer ser atleta (jogador de
futebol) mas não é possível devido à sua deficiência física, visual e auditiva,
que quer ser modelo mas não dispõe de atributos necessários para tal profissão,
que quer estar na faculdade mas não se tem saído bem no exame de admissão, que
deseja se alimentar mas não encontra um restaurante aberto, que quer ser
cantora mas não dispõe de uma boa voz e que quer comprar um carro mas o
dinheiro não lhe é suficiente.
Portanto, a não
satisfação dessas necessidades pode causar frustração. Trazendo algumas ideias
sustentadora no tocante às causas da frustração, pode se olhar no dizer de (Alencar,
1986:175), quando advoga categoricamente que, frustração é mais comummente utilizada como referência a uma situação em que uma
barreira ou obstáculo impede a obtenção de um objectivo pelo sujeito. Em outras
palavras Alencar queria dizer que, o exame de admissão, o restaurante fechado,
a falta de dinheiro, a deficiência física, visual e auditiva, a altura, a voz entre
outros são alguns dos factores ou barreiras bloqueadores das nossas necessidades.
Estas entre outras barreiras causam consciente ou inconsciente, parcial ou
significativamente frustrações no indivíduo. Esta situação frustradora pode
gerar agressividade.
Segundo Dollard et al.,
(1939) cit in., (Alencar,1986:176), diz que um grupo de psicólogos propôs a
hipótese de que a frustração gera agressão. De lembrar que a agressão ou
agressividade pode ser física, verbal ou psicológica. Deve se ainda ter em conta
que quanto mais intenso for a frustração mais intenso será a agressividade.
Em relação ainda à
agressividade alguns autores como Filósofo Português, (Estanqueiro, 1992),
alegam que agressividade é fruto da imitação e observação de modelos. As
crianças para este autor aprendem a serem agressivas através da observação e imitação
de modelos como pais, professores, filmes, pessoas admiradas, amigos mais
queridos entre outros. Quando a criança por exemplo é educada num ambiente
hostil, a probabilidade é maior da mesma ser agressiva no momento futuro pois, para
ele o ataque é a única alternativa de solucionar problemas e que na verdade não
é. Segundo Freud, Pai da Psicanálise, todos
os aspectos vivenciados na infância e na adolescência determinam a
personalidade do indivíduo.
Charles Darwin na sua
Teoria de Selecção Natural, advoga que o ser humano é actor da sua
agressividade visto que o mesmo carrega consigo informação genética que garante
lhe a preservação da espécie. Portanto, em relação a este aspecto, agressividade, pode se chegar a conclusão
de que o homem aprende a ser agressiva. Um exemplo concreto seria dum indivíduo
que após o nascimento é colocado num ambiente insolado onde não vê pessoas mas
existem lá condições favoráveis para a sua sobrevivência. Neste caso pode se
dizer que depois de 20 anos, o indivíduo não estará em condições para se
expressar verbalmente, agir agressivamente até mesmo para responder à certas
acções.
Para além da
agressividade, existe uma forma estranha de ser dos indivíduos perante certas
situações. Há casos em que os indivíduos mostram se indiferente quando estão
perante situações como o caso de encontrar um individuo na paragem passando por
situações difíceis como doença e não dar conta. Como o caso de uma criança que
está num ambiente onde as outras manipulam os objectos a sua volta como forma
de divertir-se e a criança mostrar se indiferente, como se não estivesse
acontecer nada.
Como
é que se explica isso?
Para (Alencar, 1986:179), essa atitude é considerada apatia, que caracteriza-se
por um comportamento oposto às manifestações agressivas, ou seja, o indivíduo
torna-se indiferente a quaisquer estímulos, incapaz de apresentar quaisquer reacções.
Segundo o mesmo autor, o comportamento apático tem maior probabilidade de
ocorrer em situações de frustrações intensas e prolongadas, após todas as tentativas
possíveis de o indivíduo transpor a barreira terem sido inúteis e sentir-se ele
ameaçado psicologicamente por quaisquer reacções apresentadas.
Preste muita atenção nesta
situação pois, não é pela simples razão de o indivíduo não mostrar disponível
de agir perante situações em que a maior se preocupa é que vamos classificá-lo
de apático. É preciso que a atitude seja típica da pessoa, ou seja, deve tender
se manifestar-se em varíssimas vezes pois, a Psicologia defende que um
comportamento X ou Y é típica duma dada pessoa quando o mesmo manifesta-se em
várias circunstâncias.
Para além dos aspectos
supracitados, todos nós já passamos por situações de conflitos, ou não? Creio
que ninguém diria não. A resposta para este caso tem sido sempre sim! Na nossa
vida académica, no trabalho, nas relações conjugais, nas amizades entre outros
temos passados por situações do género. E na maior parte de casos não
entendemos as suas causas e principalmente em como superá-los e, em algum
momento sentimo-nos sem razão de permanecer ainda vivo. Esta situação tem
acontecido quando estamos perante duas necessidades, metas ou cursos que coloca-nos
em decadência. Assim, pode se dar exemplo de um estudante que é feito escolher entre
um carro SANTAFE 4WD, último lançamento e um valor de 800 milhões de meticais da
velha família que hoje em dia corresponde a 800 mil meticais. Entre uma
situação em que um senhor, pai de família, é pedido pela sua querida e única esposa,
segundo ele, para levar a sua sogra
de Gaza para Maputo para ter cuidados médicos sabendo que já o levara e foi
acusado de ser actor da gravação da situação ou doença.
Portanto, por conflito,
(Alencar, 1986:182), entende um tipo especial de frustração, que se caracteriza
pelo aparecimento simultâneo de duas ou mais necessidades, desejos ou
tendências de respostas incompatíveis. O conflito poderá ser também entre
pressões internas e externas incompatíveis ou entre exigências externas que não
podem ser satisfeitas simultaneamente. Dependendo da natureza do conflito, o
indivíduo poderá apresentar desde uma indecisão momentânea sobre que resposta
apresentar até uma alta tensão, ou mesmo bloqueio completo.
A alta tensão interfere
com a capacidade de perceber, pensar e aprender eficientemente, o conflito
envolve uma série de processos que tende a dificultar a sua resolução. (Davidoff,
1983), diz que os conflitos podem ser vistas em quatro perspectivas à saber: conflito
aproximação-aproximação; conflito evitação-evitação; conflito aproximação-evitação
e conflito dupla aproximação-evitação.
No primeiro conflito, o
indivíduo encontra-se atraído por dois objectos, cursos de acção ou necessidades,
e a aceitação de uma opção significa abandonar a outra. O que não é uma tarefa
fácil. Os dois objectos neste são brilhantes e atraentes. O segundo conflito evitação-evitação
é o inverso do primeiro pois para além de se atrair por dois objectos, a pessoa
é simultaneamente repelida por duas metas, objectos, ou cursos de acção e obrigada
a escolher uma alternativa, (Davidoff, 1983:553). Um exemplo concreto deste
conflito pode se dar o caso de uma pessoa apanhada a furtar alguma coisa de uma
loja pode ter de escolher entre estar dias na cadeia ou pagar uma multa. Este
conflito, tende a ser mais difícil de responder ou decidir, diferentemente do
primeiro.
Em relação ao terceiro
conflito, aproximação-evitação, o individuo
tende a ficar preso pois, é simultaneamente atraído e repelido pelo mesmo
objecto, metas ou necessidades. Por esta razão, (Alencar, 1986:185), explica a
razão por que este conflito não é fácil de ser resolvido. Este é um dos conflitos
que com maior frequência ocorre na vida quotidiana dos indivíduos. Dando um
exemplo concreto, pode-se citar um emprego que paga bem, mas não oferece
segurança; ou um indivíduo que deseja morar em uma casa confortável mas muito
distante da cidade, ou ainda uma criança que deseja andar a cavalo, mas receia
cair, (Alencar, 1986:185).
E a quarto e último
conflito, dupla Aproximação-Evitação,
envolve duas metas, cada qual tendo bons e maus pontos. Uma jovem por exemplo,
talvez tenha de escolher entre trabalhar ou frequentar uma escola. O único
cargo disponível é o de empregada domestica; é desagradável, mas proporcionará
renda. A escola qualificará a mulher para uma carreira significante. Mas a
instrução é cara e consome tempo, (Davidoff, 1983: 554).
Agora pode se voltar à
questão anterior, como lidar com esses
comportamentos sociais? Respondendo a esta questão diria que vivenciar
situações frustradoras não é algo doutro mundo, é uma situação que tem ocorrido
na nossa vida quotidiana, na nossa vida académica, no trabalho, nas relações
conjugais, nas amizades, entre outros. Mas como lidar com estas situações visto
que bloqueiam o curso das nossas actividades e desejos desencadeando em algum
momento em tragédias a nível fisiológico cognitivo, emocional e social?
Não é uma tarefa fácil
educar os solos da emoção, mas é possível dependendo da maturidade emocional de
cada indivíduo e a sua capacidade de controlo. Cury,
(2004:68), dá-nos exemplos de um dos maiores sonhadores de todos os tempos, “Abraham Lincoln”. Segundo Cury (2004:68), este teve todos os motivos para abandonar seus sonhos, mas, apesar de todas
as lágrimas e das incontáveis frustrações, jamais desistiu deles. Conseguiu
insistir e persitir depois de muitas contestações e inúmeras perdas na eleições
presidenciais do Estados Unidos de América. Porém, ele apenas zombou do próprio
medo, transformou a insegurança em ousadia, a humilhação em lágrimas que
lapidaram sua personalidade, as lágrimas em gemas preciosas no território da
emoção. Conseguiu transformar os obstáculos em victórias, Cury, (2004:68).
Portanto, vale
apena inspirarmo-nos em vida e obra de modelos no mundo de perdas e
frustrações. Isto quer dizer que, ao sentir-se frustrado, o indivíduo
poderá também reagir construtivamente, através de um esforço intensificado para
vencer o obstáculo e alcançar o objectivo, ou poderá também tentar novos
caminhos que poderão levá-lo à meta. No primeiro caso, o indivíduo canaliza a
tensão gerada pela frustração para trabalhar mais intensamente no sentido de
transpor o obstáculo. É o caso de um indivíduo que não se saiu bem numa prova e
que se prepara melhor para uma segunda oportunidade que surge. Após a
frustração, o indivíduo poderá também reestruturar a situação, analisar se a
sua acção em direcção ao objectivo foi ou não adequada e isto poderá levá-lo a
descobrir um novo caminho ou uma outra maneira para superar o obstáculo”,
Alencar (1986:181). De realçar ainda que quanto mais tempo a frustração
levar mais danos se espera na personalidade do indivíduo. Isto quer dizer que
há necessidade de facto, de haver uma intervenção rápida por parte dos
indivíduos à sua volta, quer intervenção dos pais, quer dos amigos, dos
vizinhos até mesmo dos Psicólogos. Mas para que isto aconteça é preciso que o
indivíduo se abra perante os outros, ou
seja, exponha a sua preocupação de modo que os outros possam dar a sua
contribuição. Caso não o mesmo pode sofrer consequências, a nível emocional,
cognitivo, pessoal e social.
Portanto, se a
maturidade emocional do indivíduo não está suficientemente desenvolvida para
enfrentar situações do género, é imperioso que o mesmo se dirija urgentemente ao
pessoal supracitado (pais, amigos, vizinhos e especialista na área: Psicólogos.
*Licenciando em
Psicologia Educacional
custodiosumbane@gmail.com
2014