Crianças com Necessidades Educativas Especiais em
Moçambique
*Custódio Sumbane
Como
é que as crianças com Necessidades Educativas Especiais são vistas no contexto
Moçambicano? Será que, o país possui escolas verdadeiramente inclusivas? Será
que as Políticas Educativas de Moçambique respondem à demanda da sociedade: “Crianças com Necessidades Educativas Especiais”?
Estas inquietações, aprisionam o território da emoção das pequenas e belas
crianças, dos pais e encarregados de educação e dos membros da sociedade civil.
Entretanto, depois de uma longa data de exclusão das crianças com Necessidades
Educativas Especiais aparece países, governos e ainda organizações para traçar políticas,
princípios, e as práticas a fim de
alertar países do mundo inteiro no sentido de desenvolver políticas que
pudessem responder à diversidade e pôr em prática a questão de escolas
inclusivas, onde todas as crianças independentemente do seu estado físico,
intelectual até emocional pudessem aprender.
Será que as crianças com necessidades educativas
especiais no contexto moçambicano são vistas como as que tem direito à escola, direito
à protecção, as que merecem respeito, consideração, ajuda e sobretudo direito à
vida? Os actos indicam que não! Um exemplo concreto que justifica a questão supracitada,
é o facto de as escolas não possuírem professores com formação psicopedagógica
para lidar com situações do género. Segundo, as crianças são menos valorizadas tanto
ao nível da sociedade como educacional. Terceiro, a falta de um número
considerável de crianças com necessidades educativas especiais frequentando
escolas regulares. E por último, as crianças são
invadidas nas suas próprias casas com tiroteios repentinos como se estivessem
afugentar passarinhos na machamba, e são obrigadas a dormir nas savanas,
florestas e faunas com animais perigosos, que colocam em risco a sua vida e
corrompem o território da sua emoção.
Essas
crianças são vistas como seres sem valor, como esquizofrénicos na lixeira, como
as que não são dignas de respeito, consideração, oportunidade, protecção, escola,
e sobretudo a vida. Mas, mesmo os psicóticos
afectivos ou funcionais que estão desligados da realidade, têm algo de positivo
que se pode aproveitar. E as crianças? Reflictamos!
Contudo,
em 1998, o país institucionalizou o projecto “Escolas Inclusivas” emanada na Declaração de Salamanca, com o propósito
de garantir a formação de professores a fim de responder à demanda da sociedade,
“crianças com necessidades educativas
especiais”. Mas, as escolas ainda não possuem professores formados, capazes
de lidar com a diversidade na sala de aula. As escolas não são construídas de
tal forma que possam favorecer a todos de igual modo. Está-se a falar
basicamente de construção de escolas com rampas condignas, corrimão entre
outros aspectos que possam favorecê-las. Não apresentam um número significativo
de crianças ditas “anormais” ou com necessidades educativas especiais frequentando
escolas regulares.
Entretanto,
Cury (2002:103), nos chama atenção de que os direitos humanos não podem estar apenas na lei,
devem ser tecidos na alma e esculpidos no coração. E uma
das declarações que tem preocupação com as crianças, Declaração de Salamanca
(1994:11) salienta que, as escolas inclusivas consiste em
todos os alunos aprenderem juntos, sempre que possível, independentemente das
dificuldades e das diferenças que apresentam.
E isso só é possível com a presença de professores
altamente formados ou capacitados na área para lidar com situações do género. Mas
isso não acontece na sua plenitude, ou melhor não se faz sentir. O
que existe é exclusão, descriminação e segregação.
Portanto,
este triste cenário se assemelha ao holocausto judeu ocorrido na segunda guerra
mundial, onde os direitos humanos foram violados. Os nazistas do partido de
Hitler, viam as judias como uma espécie impura e sem direito à vida. Logo, foram
colocadas nos campos de concentração e exterminados. Por fim, mais de um milhão
de crianças e adolescentes morreram. Para onde vamos com atitudes
discriminatórias, segregacionistas ou exclusivas? Tomemos, no entanto, uma
atitude empática, e coloquemo-nos no lugar dessas pequenas e belas crianças. Deve-se
olhar para essas crianças ignoradas como se fossem as nossas. Ninguém gostaria
de saber que o seu filho está sendo ignorado ou visto como alguém sem valor. Assim, Estanqueiro, (1992: 28),
chama-nos atenção de que, não somos superiores nem inferiores aos outros. Somos
diferentes, mas iguais em dignidade. Merecemos respeito e amor. Devemos amar o
próximo como a nós mesmos.
Na
verdade, a diferença nos acompanha tanto a nível emocional, fisiológico, social,
cognitivo e cultural mas, apesar dela, somos todos iguais em dignidade. Portanto, a mudança de
comportamento começa connosco. Entretanto, que impacto psicológico a
exclusão pode causar nas crianças com necessidades educativas especiais? Lembrem-se
que ninguém aprende a amar se não foi amado, ninguém se abre se não é aceite e
ninguém entende a questão da paz se não foi educado num ambiente de paz. Sendo
assim, a revisão literária sugere que os alunos colocados em classes segregadas
sofrem consequências negativas, nomeadamente um autoconceito mais baixo, como
resultado da separação. Eis as palavras dos
alunos da Escola Secundária Josina Machel: “Gostaríamos de gozar do mesmo espaço físico
(sala de aula) com os outros (alunos) ”.
Primeiro,
de realçar que as crianças com necessidades educativas especiais sentem-se excluídas
pelos amigos, pela comunidade, escola e em algumas circunstâncias pela própria
família. Sendo assim, elas podem tornar-se indivíduos inseguros, podem desenvolver
complexo de inferioridade, sentimento de culpa, de incapacidade, baixa
auto-estima, baixo autoconceito, fraco rendimento académico, desespero, dependência,
depressão e por sua vez a frustração pode acompanhar o percurso da sua vida. Que situação triste! Contudo, que estratégias podem ser adoptadas para garantir escolas
verdadeiramente inclusivas? Para garantir escolas verdadeiramente
inclusivas é preciso que: Primeiro, o Ministério da Educação delimita
políticas que tem em vista a diversidade, ou seja, que vão responder à demanda
da sociedade; Essas políticas devem favorecer a todos sem descriminação; A formação
Psicopedagógica dos professores; criação de escolas com recursos; implementação das políticas; aplicação da pedagogia diferenciada; formação de grupos heterogéneos; E por
fim, o Ministério da Educação, da Mulher e Acção Social em colaboração com o
Ministério da Saúde deviam criar um ambiente de debates ou palestras, com o propósito
de sensibilizar a sociedade civil de modo que possa considerar as crianças com
necessidades educativas especiais como as digna de respeito, consideração, escola,
oportunidade e sobretudo a vida. Portanto, criemos um ambiente favorável para o
desenvolvimento normal da personalidade das pequenas, inocentes e belas
crianças.
*Licenciando
em Psicologia Educacional
custodiosumbane@gmail.com
2014
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