quarta-feira, 23 de julho de 2014

Motivos de Comportamentos Sociais, “Uma Reflexão do Ponto de Vista Psicológica e Educativa”


MOTIVOS DE COMPORTAMENTOS SOCIAIS
“Uma Reflexão do Ponto de Vista Psicológica e Educativa”
Maputo, 2014

*Custódio Sumbane
No nosso dia-a-dia, temos encarado dilemas tanto ao acordar, ao entardecer, ao anoitecer ou mesmo de madrugada que, fazem com que não tenhamos paz no anfiteatro ou nos solos da nossa emoção, ou seja, sem saber em como lidar ou mesmo superá-los. Falando de Comportamentos Sociais está-se a falar concretamente de frustração, agressão, apatia, depressão, conflitos, ansiedade entre outros. Sendo assim, pode se dizer que, o homem é sem dúvidas susceptível dessas tipologias comportamentais, isto é, independentemente da raça, do grupo étnico, do estilo de aprendizagem, dos valores, das crenças, dos hábitos, do nível de inteligência até mesmo da religião ele carrega consigo essas descargas comportamentais.
Todavia, em Psicologia diz-se que todo o comportamento tem uma causa. Com isto quer se dizer que todos os aspectos ou comportamentos observados no país e no mundo fora tem lá suas causas. Esses comportamentos em algum momento bloqueiam o funcionamento momentâneo e normal do anfiteatro da estrutura cognitiva do individuo podendo de alguma forma causar danos tanto a nível emocional, cognitivo, pessoal até mesmo social. Neste caso, qual seria a forma mais eficaz e eficiente de superá-los? Antes de responder a esta questão talvez podia tentar esclarecer o que é isto de comportamentos sociais e como é que surgem.
Olhando em primeiro lugar para frustração, dir-se-ia que este é sem dúvidas, comportamento resultante duma necessidade não satisfeita, bloqueada ou não atendida. Sendo assim, pode se dar o caso de um indivíduo que quer ser atleta (jogador de futebol) mas não é possível devido à sua deficiência física, visual e auditiva, que quer ser modelo mas não dispõe de atributos necessários para tal profissão, que quer estar na faculdade mas não se tem saído bem no exame de admissão, que deseja se alimentar mas não encontra um restaurante aberto, que quer ser cantora mas não dispõe de uma boa voz e que quer comprar um carro mas o dinheiro não lhe é suficiente.
Portanto, a não satisfação dessas necessidades pode causar frustração. Trazendo algumas ideias sustentadora no tocante às causas da frustração, pode se olhar no dizer de (Alencar, 1986:175), quando advoga categoricamente que, frustração é mais comummente utilizada como referência a uma situação em que uma barreira ou obstáculo impede a obtenção de um objectivo pelo sujeito. Em outras palavras Alencar queria dizer que, o exame de admissão, o restaurante fechado, a falta de dinheiro, a deficiência física, visual e auditiva, a altura, a voz entre outros são alguns dos factores ou barreiras bloqueadores das nossas necessidades. Estas entre outras barreiras causam consciente ou inconsciente, parcial ou significativamente frustrações no indivíduo. Esta situação frustradora pode gerar agressividade.
Segundo Dollard et al., (1939) cit in., (Alencar,1986:176), diz que um grupo de psicólogos propôs a hipótese de que a frustração gera agressão. De lembrar que a agressão ou agressividade pode ser física, verbal ou psicológica. Deve se ainda ter em conta que quanto mais intenso for a frustração mais intenso será a agressividade.
Em relação ainda à agressividade alguns autores como Filósofo Português, (Estanqueiro, 1992), alegam que agressividade é fruto da imitação e observação de modelos. As crianças para este autor aprendem a serem agressivas através da observação e imitação de modelos como pais, professores, filmes, pessoas admiradas, amigos mais queridos entre outros. Quando a criança por exemplo é educada num ambiente hostil, a probabilidade é maior da mesma ser agressiva no momento futuro pois, para ele o ataque é a única alternativa de solucionar problemas e que na verdade não é. Segundo Freud, Pai da Psicanálise, todos os aspectos vivenciados na infância e na adolescência determinam a personalidade do indivíduo.
Charles Darwin na sua Teoria de Selecção Natural, advoga que o ser humano é actor da sua agressividade visto que o mesmo carrega consigo informação genética que garante lhe a preservação da espécie. Portanto, em relação a este aspecto, agressividade, pode se chegar a conclusão de que o homem aprende a ser agressiva. Um exemplo concreto seria dum indivíduo que após o nascimento é colocado num ambiente insolado onde não vê pessoas mas existem lá condições favoráveis para a sua sobrevivência. Neste caso pode se dizer que depois de 20 anos, o indivíduo não estará em condições para se expressar verbalmente, agir agressivamente até mesmo para responder à certas acções.
Para além da agressividade, existe uma forma estranha de ser dos indivíduos perante certas situações. Há casos em que os indivíduos mostram se indiferente quando estão perante situações como o caso de encontrar um individuo na paragem passando por situações difíceis como doença e não dar conta. Como o caso de uma criança que está num ambiente onde as outras manipulam os objectos a sua volta como forma de divertir-se e a criança mostrar se indiferente, como se não estivesse acontecer nada.
Como é que se explica isso? Para (Alencar, 1986:179), essa atitude é considerada apatia, que caracteriza-se por um comportamento oposto às manifestações agressivas, ou seja, o indivíduo torna-se indiferente a quaisquer estímulos, incapaz de apresentar quaisquer reacções. Segundo o mesmo autor, o comportamento apático tem maior probabilidade de ocorrer em situações de frustrações intensas e prolongadas, após todas as tentativas possíveis de o indivíduo transpor a barreira terem sido inúteis e sentir-se ele ameaçado psicologicamente por quaisquer reacções apresentadas.
Preste muita atenção nesta situação pois, não é pela simples razão de o indivíduo não mostrar disponível de agir perante situações em que a maior se preocupa é que vamos classificá-lo de apático. É preciso que a atitude seja típica da pessoa, ou seja, deve tender se manifestar-se em varíssimas vezes pois, a Psicologia defende que um comportamento X ou Y é típica duma dada pessoa quando o mesmo manifesta-se em várias circunstâncias.
Para além dos aspectos supracitados, todos nós já passamos por situações de conflitos, ou não? Creio que ninguém diria não. A resposta para este caso tem sido sempre sim! Na nossa vida académica, no trabalho, nas relações conjugais, nas amizades entre outros temos passados por situações do género. E na maior parte de casos não entendemos as suas causas e principalmente em como superá-los e, em algum momento sentimo-nos sem razão de permanecer ainda vivo. Esta situação tem acontecido quando estamos perante duas necessidades, metas ou cursos que coloca­­-nos em decadência. Assim, pode se dar exemplo de um estudante que é feito escolher entre um carro SANTAFE 4WD, último lançamento e um valor de 800 milhões de meticais da velha família que hoje em dia corresponde a 800 mil meticais. Entre uma situação em que um senhor, pai de família, é pedido pela sua querida e única esposa, segundo ele, para levar a sua sogra de Gaza para Maputo para ter cuidados médicos sabendo que já o levara e foi acusado de ser actor da gravação da situação ou doença.
Portanto, por conflito, (Alencar, 1986:182), entende um tipo especial de frustração, que se caracteriza pelo aparecimento simultâneo de duas ou mais necessidades, desejos ou tendências de respostas incompatíveis. O conflito poderá ser também entre pressões internas e externas incompatíveis ou entre exigências externas que não podem ser satisfeitas simultaneamente. Dependendo da natureza do conflito, o indivíduo poderá apresentar desde uma indecisão momentânea sobre que resposta apresentar até uma alta tensão, ou mesmo bloqueio completo.
A alta tensão interfere com a capacidade de perceber, pensar e aprender eficientemente, o conflito envolve uma série de processos que tende a dificultar a sua resolução. (Davidoff, 1983), diz que os conflitos podem ser vistas em quatro perspectivas à saber: conflito aproximação-aproximação; conflito evitação-evitação; conflito aproximação-evitação e conflito dupla aproximação-evitação.
No primeiro conflito, o indivíduo encontra-se atraído por dois objectos, cursos de acção ou necessidades, e a aceitação de uma opção significa abandonar a outra. O que não é uma tarefa fácil. Os dois objectos neste são brilhantes e atraentes. O segundo conflito evitação-evitação é o inverso do primeiro pois para além de se atrair por dois objectos, a pessoa é simultaneamente repelida por duas metas, objectos, ou cursos de acção e obrigada a escolher uma alternativa, (Davidoff, 1983:553). Um exemplo concreto deste conflito pode se dar o caso de uma pessoa apanhada a furtar alguma coisa de uma loja pode ter de escolher entre estar dias na cadeia ou pagar uma multa. Este conflito, tende a ser mais difícil de responder ou decidir, diferentemente do primeiro.
Em relação ao terceiro conflito, aproximação-evitação, o individuo tende a ficar preso pois, é simultaneamente atraído e repelido pelo mesmo objecto, metas ou necessidades. Por esta razão, (Alencar, 1986:185), explica a razão por que este conflito não é fácil de ser resolvido. Este é um dos conflitos que com maior frequência ocorre na vida quotidiana dos indivíduos. Dando um exemplo concreto, pode-se citar um emprego que paga bem, mas não oferece segurança; ou um indivíduo que deseja morar em uma casa confortável mas muito distante da cidade, ou ainda uma criança que deseja andar a cavalo, mas receia cair, (Alencar, 1986:185).
E a quarto e último conflito, dupla Aproximação-Evitação, envolve duas metas, cada qual tendo bons e maus pontos. Uma jovem por exemplo, talvez tenha de escolher entre trabalhar ou frequentar uma escola. O único cargo disponível é o de empregada domestica; é desagradável, mas proporcionará renda. A escola qualificará a mulher para uma carreira significante. Mas a instrução é cara e consome tempo, (Davidoff, 1983: 554).
Portanto, em relação aos comportamentos supracitados, o homem para além de agir apática e agressivamente perante situações frustradoras, ela, tendem a manifestar alguns comportamentos ou atitudes como, esforço intensificado, a regressão, a fantasia e a fixação.
Agora pode se voltar à questão anterior, como lidar com esses comportamentos sociais? Respondendo a esta questão diria que vivenciar situações frustradoras não é algo doutro mundo, é uma situação que tem ocorrido na nossa vida quotidiana, na nossa vida académica, no trabalho, nas relações conjugais, nas amizades, entre outros. Mas como lidar com estas situações visto que bloqueiam o curso das nossas actividades e desejos desencadeando em algum momento em tragédias a nível fisiológico cognitivo, emocional e social?
Não é uma tarefa fácil educar os solos da emoção, mas é possível dependendo da maturidade emocional de cada indivíduo e a sua capacidade de controlo. Cury, (2004:68), dá-nos exemplos de um dos maiores sonhadores de todos os tempos, “Abraham Lincoln”. Segundo  Cury (2004:68), este teve todos os motivos para abandonar seus sonhos, mas, apesar de todas as lágrimas e das incontáveis frustrações, jamais desistiu deles. Conseguiu insistir e persitir depois de muitas contestações e inúmeras perdas na eleições presidenciais do Estados Unidos de América. Porém, ele apenas zombou do próprio medo, transformou a insegurança em ousadia, a humilhação em lágrimas que lapidaram sua personalidade, as lágrimas em gemas preciosas no território da emoção. Conseguiu transformar os obstáculos em victórias, Cury, (2004:68).
Portanto, vale apena inspirarmo-nos em vida e obra de modelos no mundo de perdas e frustrações. Isto quer dizer que, ao sentir-se frustrado, o indivíduo poderá também reagir construtivamente, através de um esforço intensificado para vencer o obstáculo e alcançar o objectivo, ou poderá também tentar novos caminhos que poderão levá-lo à meta. No primeiro caso, o indivíduo canaliza a tensão gerada pela frustração para trabalhar mais intensamente no sentido de transpor o obstáculo. É o caso de um indivíduo que não se saiu bem numa prova e que se prepara melhor para uma segunda oportunidade que surge. Após a frustração, o indivíduo poderá também reestruturar a situação, analisar se a sua acção em direcção ao objectivo foi ou não adequada e isto poderá levá-lo a descobrir um novo caminho ou uma outra maneira para superar o obstáculo”, Alencar (1986:181). De realçar ainda que quanto mais tempo a frustração levar mais danos se espera na personalidade do indivíduo. Isto quer dizer que há necessidade de facto, de haver uma intervenção rápida por parte dos indivíduos à sua volta, quer intervenção dos pais, quer dos amigos, dos vizinhos até mesmo dos Psicólogos. Mas para que isto aconteça é preciso que o indivíduo se abra  perante os outros, ou seja, exponha a sua preocupação de modo que os outros possam dar a sua contribuição. Caso não o mesmo pode sofrer consequências, a nível emocional, cognitivo, pessoal e social.
Portanto, se a maturidade emocional do indivíduo não está suficientemente desenvolvida para enfrentar situações do género, é imperioso que o mesmo se dirija urgentemente ao pessoal supracitado (pais, amigos, vizinhos e especialista na área: Psicólogos.

*Licenciando em Psicologia Educacional

custodiosumbane@gmail.com
2014

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