NO mundo em que vivemos têm-se vindo a verificar situações desastrosas que
comprometem, de certa maneira, a saúde social, emocional e psicológica das
pessoas. Várias dificuldades são vivenciadas e colocam “o palco da emoção” num
estado de turbulência e, como consequência, corrompem o alicerce da
auto-estima. Essas situações bloqueiam o curso normal das nossas actividades,
tanto ao nível de trabalho, familiar, educacional até nas relações
interpessoais.
Há pessoas que preferem passar fome, por
razões de medo ou vergonha de comprar e revender géneros alimentícios na via
pública. Algumas optam em recorrer ao assalto à mão armada a estabelecimentos
comerciais ou bancários, com o objectivo de alimentar suas vontades
intrínsecas. Outros confundem auto-estima com complexo de superioridade
(exibição de carro luxuoso, relógio de marca, vestes, condomínio, trabalho
condigno, condições socioeconómicas, estilo de vida estável), enfim.
Entretanto, a auto-estima nada tem a ver com o sentimento e os bens
anteriormente mencionados, dado que ela se resume em auto-respeito e
auto-aceitação, independentemente da sua condição socioeconómica, estilo de
vida, grau académico e de moralidade, estado físico, mental e social, etnia,
conduta, forma de pensar, idade, cor da pele, hábitos, costumes ou crenças.
É, também, aceitar e respeitar o próximo
à sua semelhança. Contudo, é essencial desenvolver um olhar clínico apurado
para identificar a real auto-estima do complexo de superioridade. Com base no
comportamento do indivíduo, podemos discernir se a auto-estima da pessoa é
baixa ou alta. Em verdade, todo o indivíduo com auto-estima alta é humilde,
admite os seus erros, sabe ouvir, fala espontaneamente e sem medo de errar,
compartilha os seus sentimentos negativos e positivos, aceita-se e respeita-se,
executa actividades para o seu bem-estar sem medo de represálias e muito menos
de adjectivos negativos que lhe possam atribuir.
É aquele que nunca desiste dos seus
sonhos, acredita nas suas potencialidades, ergue a cabeça após uma recaída. Uma
pessoa com auto-estima elevada é aquela que tem a capacidade de activar a sua
força motivacional interna e virar a página da vida. Assemelhe-se a Abraham
Lincoln, que tinha tudo para desistir após várias tentativas, das 1.as às 15.as
eleições presidenciais dos Estados Unidos, mas nem com as incontáveis derrotas,
contestações e frustrações jamais desistiu.
A
Auto-estima e o seu Poder
A auto-estima desenvolve-se e o seu
poder equipara-se à fúria das águas do mar, que remove qualquer obstáculo
independentemente da sua dimensão. É capaz de tornar o Homem no maior
batalhador da história capaz de revolucionar a direcção da sua vida. É
desenterrar os projectos esquecidos no tempo. É ignorar a humilhação e
desvalorização feita pelo mundo sobre si. É sentir que a sua contribuição como
ser existencial pode mudar, de certa maneira, atitudes e comportamentos
desviantes que assolam as sociedades actuais.
A título de exemplo, do poder de
auto-estima, é do menino Marlon, que passou por uma situação demasiadamente
triste e difícil. O menino Marlon era de família humilde, com todas as
condições criadas para que fosse um menino de rua, anti-social e mendigo.
Perdeu a mãe muito cedo, quando tinha apenas 10 anos de idade, e na altura teve
que ser um adulto em miniatura, isto é, cuidar dos seus irmãos mais novos e da
sua larga família. A pobreza e o sofrimento tomaram conta dele, chegou a vender
lenha numa vila da província de Gaza (Chissano) que se encontrava há sensivelmente
6km da sua residência. Depois de transitar a 5.ª classe, dado que na época não
tinha 6.ª classe naquela vila, passou para Maputo para continuar com os
estudos.
Chegado a Maputo, a vida tornou-se cada
vez mais difícil, e para contornar a situação que vivia vendeu pão pelas ruas e
ruelas da cidade. Enquanto se recordava do sofrimento e do esforço que a mãe
fazia para lhe proporcionar os primeiros cuidados da vida, cantava a canção da
vida, “Ama pau haleno”. Por ver que não lhe rendia absolutamente nada,
mudou de negócio. Ensinou as crianças por debaixo do canhoeiro em troca de bens
inexistentes. Foi, de facto, frustrante. Ao nascer do Sol, fazia leituras de
livros apanhados nas latas de lixo e após aprender viu a necessidade de
aperfeiçoar os conhecimentos adquiridos. Desta feita, abriu uma escolinha de
Inglês. Não rendia quase nada, mas o pouco (50 centavos) que ganhava pagava
propinas e comprava alguns livros escolares. Mas o mais agravante é que não
tinha casa para viver nem géneros alimentícios para se alimentar. Entretanto,
apesar de noites perdidas por debaixo das árvores, não perdeu e nem desistiu
dos seus projectos de vida. Ele sempre sonhou em ser cientista e maior educador
de todos os tempos. Não temia represália, descriminação e muito menos injúrias
sociais. Foi humilhado e incansavelmente atitudes bárbaras foram acometidas
sobre si, mas nem com isso os fenómenos psicossociais não aterrorizaram os
“solos da sua emoção”. Apesar de todas as contestações jamais desistira.
A sua frequência universitária foi na
base de sofrimento, pois percorria longas distâncias a pé. Não tinha dinheiro
para pagar propinas, muito menos transporte, mas o poder da auto-estima o
tornou em maior vencedor de todos os tempos. Hoje é um pequeno cientista, jovem
humilde e educador. Revolucionou a página da sua vida contornando todas as
humilhações, represálias, frustrações e acima de tudo barreiras.
Portanto, isto nos faz acreditar que o
Homem é capaz de inverter qualquer situação da sua vida desde o momento que
impulsione a sua força motivacional interna, a auto-estima. Sejais como o
menino Marlon, que permitiu que o poder da sua auto-estima iluminasse a sua
vida. Revolucione a página da sua vida!
Custódio Sumbane & Salvador Cumbula
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